por Breno Rosostolato
Em fevereiro de 2015 estreou o filme “Cinquenta Tons de Cinza”, adaptação do livro de mesmo título, e que na época fez o mesmo sucesso da obra literária. O livro conta a história do encontro entre Christian Grey e Anastasia Steele. Ele, um excêntrico bilionário que possui desejos peculiares como a prática do BDSM – práticas consensuais envolvendo bondage e disciplina, dominação e submissão. Ela, uma jovem virgem e recatada que cede aos fetiches e à sedução do amante. Em um cenário de sadismo e submissão, os dois protagonizam toda a erotização e a eloquência do prazer sexual.
O livro possui um ingrediente que é poderoso, o prazer. Não importa onde e nem como. Se for prazeroso para os amantes, sem causar sofrimento emocional ou físico para os envolvidos, tudo é permitido. O que devemos ter em mente é que “Cinquenta Tons de Cinza”, assim como a literatura erótica, propõe a explorar toda a pluralidade sexual e as inúmeras formas de obter prazer. O sexo é e sempre será um tema que exerce muita curiosidade entre as pessoas, pois desperta a imaginação, questiona repressões e censuras, e redefine conceitos padronizados.
A pornografia pressupõe uma exposição de corpos com o fim de concretizar o ato sexual. O erotismo fica por conta da intenção da excitação, a provocação da insinuação. A encenação faz com que a imaginação atribua significados e sensações e concretize o prazer da leitura. Acho ótimo os livros com temática erótica porque estimulam as pessoas a descobrirem seus mais íntimos desejos e, assim, incentivam à prática sexual.
Pornográficos ou eróticos, existem livros que deixam “Cinquenta Tons de Cinza” parecer uma história infantil. Confira a minha relação de algumas destas obras e trechos.
A Casa do Incesto (1984) – Anais Nin:
“Ele retirou os lençóis que a cobriam e começou a levantar sua camisola de seda devagar. Pôde erguê-la até acima dos seios sem que ela desse algum sinal de despertar. Agora seu corpo todo estava exposto e ele podia contemplá-lo quanto quisesse. Seus braços estavam abertos, seus seios se exibiam diante dos olhos dele como uma oferenda. Ele a desejava, mas ainda não se atrevia a tocá-Ia. Em vez disso, trouxe seu papel de desenho e lápis, sentou-se ao lado dela e a desenhou. Enquanto trabalhava, tinha a sensação de estar acariciando cada linha perfeita de seu corpo.”
A História de O (1954) – Pauline Réage:
“Ela nunca via os homens que entravam, porque um criado entrava sempre antes deles para vendar-lhe os olhos, e só tiravam a venda quando eles já tinham ido embora. Ela também perdeu a conta de quantas vezes suas doces mãos e seus lábios acariciavam às cegas alguém, sem saber quem. Às vezes eram vários, mas geralmente vinham sozinhos, mas todas as vezes, antes de se aproximarem dela, colocavam-na de joelhos de frente para a parede, com a argola da coleira presa no mesmo gancho em que estava a corrente, e a chicoteavam.”
A Obscena Senhora D (1982) – Hilda Hilst:
“O que eu podia fazer com as mulheres além de foder? Quando eram cultas, simplesmente me enojavam. Não sei se alguns de vocês já foderam com mulher culta ou coisa que o valha. Olhares misteriosos, pequenas citações a cada instante, afagos desprezíveis de mãozinhas sabidas, intempestivos discursos sobre a transitoriedade dos prazeres, mas como adoram o dinheiro as cadelonas! Uma delas, trintona, Flora, advogada que tinha um rabo brancão e a pele lisa igual à baga de jaca, citava Lucrécio enquanto me afagava os culhões e encostava nas bochechas translúcidas a minha caceta: ó Crasso (até aí o texto é dela) e depois Lucrécio: ‘o homem que vê claro lança de si os negócios e procura antes de tudo compreender a natureza das coisas’. A natureza da própria pomba ela compreendia muito bem. Queria umas três vezes por noite o meu pau rombudo lá dentro. E antes desse meu esforço queria também a minha pobre língua se adentrando frenética naquela caverna vermelhona e úmida. Empapava os lençóis. Era preciso enxugá-Ia com uma bela toalha felpuda antes de meter na dita cuja. Na hora do gozo ria.”
Trópico de Capricórnio (1938) – Henry Miller:
“É claro que aconteceu o inevitável. Certa manhã, tendo ela saído e me deixado sozinho, minha sogra resolveu tomar um banho de banheira. Eu estava sentado num sofá da sala, ainda de pijama, passando os olhos no jornal da manhã. O dia estava bonito, quente, e os passarinhos cantavam desenfreadamente. Comecei a ouvir o barulho da água dentro da banheira e minha sogra cantarolando, com aquela voz quente que sempre mexia comigo. Quanto mais ouvia aquela voz e pensava nela, mais minhas mãos tremiam. De repente ela parou de cantar e me chamou, pedindo uma toalha. Peguei a toalha e eu mesmo a enxuguei dos pés à cabeça. Depois segurei-a nos braços e fomos para o quarto. É inútil dizer que ela era um colosso na cama – uma foda e tanto.”
As Onze Mil Varas (1907) – Guillaume Apollinaire:
“Cornaboeux ordenou à bela morena que abrisse as pernas. Teve muita dificuldade em penetrá-Ia por trás. Ela sofreu muito, mas estoicamente, sem largar a pica de Chaloupe, que chupava. Quando Cornaboeux se apoderou completamente da boceta de Culculine, fez com que ela erguesse o braço direito e mordiscou-lhe os pelos da axila onde havia um tufo bem espesso. O gozo quando chegou foi tão forte que Culculine desmaiou mordendo violentamente o pau de Chaloupe.
A Filosofia na Alcova (1795) – Marquês de Sade:
“DOLMANCÉ, açoitando com toda força. – Vão ficar assim mesmo, putinha, assim mesmo! … e com isso vais gozar mais deliciosamente. Ah, como a masturbas bem, Saint-Ange … como este leve dedo deve suavizar os males que Augustin e eu lhe fazemos! … Mas vejo que vosso ânus se comprime, senhora; acho que vamos esporrar ao mesmo tempo … Ah, que divino ficar assim entre irmão e irmã!
SAINT-ANGE, a Dolmand. – Fode, meu astro, fode! … Creio que jamais tive tanto prazer!. ..
CAVALEIRO – Troquemos de lugar, Dolmancé; passa rapidamente do cu de minha irmã ao de Eugénie para fazê-Ia conhecer os prazeres que sentem os que ficam no meio; eu enrabarei minha irmã, que, enquanto isso, te devolverá na bunda os golpes de vara com os quais há pouco ensangüentaste a de Eugénie.”
Satyricon (provavelmente próximo do ano 60 d.C) – Petrônio:
“Entramos então, e levados por entre as placas, avistamos um grande número de pessoas de ambos os sexos, tão animadas a se divertir nos quartos que todos, por todos os lados, me pareciam ter tomado satirião (substância extraída de certa orquídea a que se atribuíam poderes afrodisíacos). Ao nos perceberem, tentaram nos aliciar com sua petulância de andróginos; um deles, de pau duro até a cintura, partiu para Ascilto, e, derrubando-o sobre um leito, tentou moer o trigo em cima dele. Voo em seu socorro e, unindo nossas forças, botamos o enlouquecido em seu devido lugar.”
A Casa dos Budas Ditosos (1999) – João Ubaldo Ribeiro:
“Faço tudo que me dá na cabeça, não quero saber de limitações. Eu não pequei contra a luxúria. Quem peca é aquele que não faz o que foi criado para fazer.”
Decamerão (1348 a 1353) – Giovanni Boccaccio:
“Assim refletindo, e com propósitos bem diferentes daqueles que o haviam levado ali, se aproximou da menina dizendo-lhe que não tivesse medo e não chorasse, e pouco a pouco, enquanto a consolava, revelou-lhe seu desejo e conseguiu que a moça, que não era feita de ferro, e muito menos de diamante, docilmente se sujeitasse ao que queria ele; que, depois de muito abraçá-la e beijá-la, levou-a para o leito do monge, onde, considerando talvez a disparidade entre sua reverendíssima corpulência e a delicadeza quase infantil da jovem, e temendo magoá-la com seu peso, em vez de deitar-se sobre ela fez com que a menina sentasse sobre ele; e nessa posição brincaram muito tempo.”
Memórias de uma Beatnik (1969) – Diane di Prima:
“Senti o zíper da calça dele arranhar minha coxa, com o pau duro por baixo. Ele começou a lamber minha barriga, os pelos da xoxota, duros com o meu gozo e o de Ivan, determinado, ávido, provando e devorando, parando para fungar e sentir o cheiro nas minhas coxas. Abriu ligeiramente minhas nádegas e lambeu a porra que estava presa nos pelos, puxando todos os meus pelos com os lábios até ficarem macios de novo, e enrolados. Depois começou a lamber a glande do meu clitóris, primeiro tirando dela também os fluidos secos do amor anterior e finalmente, dando atenção somente a ela, envolvido, por fim, no que estava fazendo.”
Mulheres (1984) – Charles Bukowski:
“Ela desfilava pela sala; eu levantei e agarrei-a. Dei-lhe um beijo violento, me debruçando sobre ela. Ia beijando e puxando pra cima seu vestido. Levantei bem alto a parte de trás e vi sua calcinha: amarela. Levantei a parte da frente do vestido e espremi meu pau contra seu corpo. Sua língua se insinuou pra dentro da minha boca: estava fria como se tivesse acabado de beber água gelada. Fui empurrando ela pro quarto, joguei-a na cama e dei~lhe o maior malho. Tirei sua calcinha e as minhas calças. Deixei a imaginação rolar. Fiquei por cima dela, com suas pernas em volta do meu pescoço. Abri suas pernas, avancei, e enfiei-lhe o troço. Fiquei brincando um pouco, em ritmos diferentes; daí dei-lhe golpes raivosos, golpes amorosos, golpes provocadores, golpes brutais. Tirava, de vez em quando; punha de novo. Por fim, perdi o controle. dei as últimas bimbadas, gozei, me afundei do seu lado. Liza continuava a me beijar. Não sabia se ela tinha ou não gozado. Eu tinha.”
E você? Conta ai se você tem algum livro erótico predileto.